2004-12-30

Patrocinar o que é verdadeiramente Importante!

Ao longo dos últimos dias assisti a um verdadeiro "bombardeamento" de programas televisivos patrocinados pela Biblioteca do Conhecimento Online (B-On). Certamente o elevado padrão de conhecimento científico proporcionado por alguns desses programas é motivo mais do que suficiente para justificar o dito patrocínio e associar a B-On a tais conteúdos.

Está assim de parabéns a UMIC - Unidade de Missão Inovação e Conhecimento por permitir que os Portugueses usufruam do elevado conhecimento proporcionado por distintos programas científicos como o programa «Levanta-te e ri», na SIC, através do seu patrocínio.

Sem dúvida, não há melhor aplicação para este dinheiro gasto em publicidade informativa(?), uma vez que - finalmente! - está garantido o acesso total à B-On, podendo qualquer português aceder à mesma, desde a sua casa, a qualquer hora do dia. Assim pensava eu... até ao momento em que resolvi verificar se teria existido alguma alteração no modo de acesso à B-On. Afinal continua tudo na mesma! O acesso total é só para alguns, continuando a maioria da população sem acesso aos conteúdos da B-On.

Esquece a UMIC a existência de trabalhadores-estudantes, de autodidactas e de investigadores a quem seria útil o acesso à B-On, desde casa, em horário pós-laboral e nos fins-de-semana. Isto é, quando têm tempo para se dedicarem à investigação.

Esquece a UMIC que há pessoas que não estão ligadas a qualquer Universidade ou Instituição de Investigação, a quem seria muito útil o acesso à B-On durante o tempo em que têm efectiva disponibilidade para o fazer.

Esquece o Governo que a ISI Web of Knowledge, outra ferramenta de trabalho igualmente importante para investigadores, não é de acesso fácil a todos os que dela precisam.

Num país onde o dinheiro para a investigação não abunda, onde há quem tenha de financiar tudo do seu bolso, sem quaisquer ajudas do Estado, estes anúncios são gritantes insultos à nossa inteligência e ao nosso direito a uma verdadeira «Sociedade da Informação e Conhecimento», a qual não deve ser só para alguns e sim proporcionada a todos!

Efectuar este tipo de anúncios quando nem um ponto de acesso por concelho - por exemplo, nas bibliotecas públicas - está sequer generalizado, quer para a B-On quer para ISI Web of Knowledge, não pode ser considerada boa gestão, tão pouco competência na hierarquização de prioridades e muito menos boa gestão dos dinheiros públicos.

A UMIC que se deixe de patrocínios publicitários e patrocine o que é verdadeiramente importante: A possibilidade de acesso ao conhecimento desde casa ou, pelo menos, desde um ponto de acesso público em cada concelho deste país!

2004-12-29

O relatório PISA “pisa-nos mais uma vez os calos”!

A iliteracia em Portugal atinge níveis gritantes nos mais diversos domínios sem que haja a mínima preocupação em mudar este estado de coisas. Mais uma vez, desta vez no domínio da Matemática, o relatório PISA "pisa-nos os calos"!

Que a ignorância é matéria abundante neste país e a inteligência produto caro e raro, não será certamente novidade para ninguém. Novidade será talvez o que não se faz para contrariar esta tendência de empobrecimento do país.

Com base neste relatório PISA (Programme for International Student Assessment) recomenda a OCDE que todos os países devem aumentar os seus níveis de educação, já que a sua prosperidade (ou seja, a sua riqueza) depende da educação e da qualidade dos seus recursos humanos. Já em relatórios anteriores, por exemplo o último, dedicado ao domínio da leitura e interpretação de textos, a mesma recomendação era efectuada. No entretanto, decorreram cerca de três anos sem que nada ou pouco tenha sido feito: Sabemos da doença, sabemos qual o remédio para curar a doença, mas parece que não sabemos como administrá-lo!

Num sistema atacado pelo sindroma da (falsa) qualidade e da "reunite" aguda, eis que muitos dos nossos professores passam mais tempo ocupados em reuniões e a lavrar extensas actas das mesmas - quais escribas do período copista - do que ocupados com o que é realmente importante, ou seja, a preparação das aulas e a formação efectiva dos seus alunos.

Como se tal já não fosse suficiente, cada vez é maior a carga administrativa que ocupa o dia-a-dia de um professor, transformando-o em administrativo de secretaria, em tesoureiro, muitas vezes em vigilante e pouco faltando para que - um destes dias! - seja igualmente responsável por andar de esfregona em punho, limpando as salas de aula e os WC.

Carências de formação de base dos alunos parecem não haver. Transitam de ano, andam dois períodos lectivos a "apanhar bonés" e no último período - Aqui d’ El Rei! - efectuam-se falsos planos de recuperação com o objectivo de transitarem para o ano seguinte, cumprindo o que está na Lei, pouco o nada importando se o aluno, na realidade, superou as suas carências: É o país nominal do "faz de conta", no seu melhor! Todos (?) ficam contentes e assim vão as estatísticas de insucesso escolar diminuindo a contento de todos.

O problema é que a verdade é como o azeite. Basta um simples relatório PISA para colocar a realidade a nu. Ora o último relatório Pisa, "pisa-nos bem os calos", sem que até agora alguém tenha acusado sinais de dor. Mais palavras para quê? Temos um país de políticos calejados... tão calejados quanto insensíveis à dor (de um país cada vez mais pobre e longe da almejada prosperidade).

4.000 euros que se pagam muito, muito caro!

A Dona Alexandra Fernandes é uma engenheira agro-alimentar, manequim e a apresentadora de TV que entra quase a diário nas nossas casas, afirmando que é ela e que a outra, a do lado, é igualmente ela, mas com mais 4.000 euros.

Coitada da pobre Senhora! É uma escrava do trabalho e ainda assim o dinheiro não lhe chega... precisa de mais 4.000 euros para ter aquele ar de felicidade de quem vai a uma catedral de consumo, consumir a crédito.

Eu já sabia que os portugueses eram muito mal pagos, que há quem tenha de conseguir um segundo e um terceiro emprego para conseguir sobreviver no meio de tanto apelo ao consumo. Mas ao ver a Dona Alexandra Fernandes na televisão, parte-se-me o coração.

Ao que chegou este país! Uma engenheira agro-alimentar vê-se na contingência de ser manequim. Como, pelos vistos, os manequins não serão muito melhor pagos que os engenheiros agro-alimentares, a lógica é complementar essas actividades profissionais como apresentadora de TV. Trabalho esse igualmente mal remunerado, que leva à necessidade de ela ainda querer mais 4.000 euros.

Ora a Dona Alexandra Fernandes, engenheira, manequim e apresentadora de TV, tem uma vida agitada e não tem tempo a perder. Precisando dos tais 4.000 euros para apresentar aquele ar de felicidade, em lugar de perder tempo em arranjar um emprego melhor remunerado - coisa difícil nestas épocas de desemprego - prefere confiar na equipa Médiatis, a equipa do crédito imediato por telefone do Credifin.

Uma equipa muito simpática, que oferece «uma solução de crédito simples, cómoda, rápida, flexível, transparente e sem burocracias» em que basta dizer - «Eu quero. Eu já tenho.»

Ainda bem que neste país há equipas assim! Que facilitam tanto a vida às pessoas. Não sei o que seria da Dona Alexandra Fernandes sem equipas destas. Como andaria sem aquele ar de felicidade, aquele seu sorriso estampado no rosto do «e esta sou eu com mais 4.000 euros»!

Na realidade, tanta simpatia tem o seu preço, mas nada que não seja possível pagar. Ser uma pessoa feliz com mais 4.000 euros, custa apenas o reembolso de 160 euros mensais nos meses seguintes, onde já estão incluídos os juros à TAEG de 29,60%.

Em princípio, esta taxa de juro, 29,60%, até parece muito elevada se compararmos com a Taxa Euribor a seis meses, situada nos 2,185%, ou com a taxa de juro de um empréstimo concedido para aquisição própria, mas não é! Não podemos esquecer que é necessário tornar outras pessoas felizes com mais 4.000 euros, pagar os ordenados à simpática equipa, a publicidade e outros custos que permitem a qualquer um dizer - Eu quero! Eu já tenho. - Ora de onde vem tanto dinheiro? Nem mais! Acertou em cheio. Vem dos 27,415% de diferença entre a TAEG de 29,60% e a Taxa Euribor a 2,185%.

Mas o que são 29,60% de juros quando comparados com a quantidade de pessoas que podem ficar felizes com mais 4.000 euros? Nada! Uma autêntica ninharia. O que eu ainda não percebi foi como é que os nossos governantes, sempre tão aflitos com o equilíbrio do Orçamento do Estado, ainda não se lembraram da ideia... Então eles, que andam sempre a procurar exemplos da gestão privada, não poderiam implementar um serviço destes no Ministério das Finanças? Além de um excelente serviço, era um excelente negócio. Por exemplo, emprestavam 4.000 euros provenientes do dinheiro pago em IRS pelo próprio contribuinte. Bastava telefonar para a Repartição de Finanças e um funcionário responder - Programa de empréstimo quando o telefone toca, diga a frase...- ao que o contribuinte respondia - Eu quero! Eu já tenho.

O funcionário tomava nota dos dados e nem passadas 48 horas, o contribuinte já teria o dinheiro depositado na sua conta bancária. Ganharia assim o Estado não apenas o dinheiro do Imposto de Selo, devido pela abertura de crédito, os 19% de IVA correspondentes aos produtos comprados, mas também os tais 29,60% de juros sobre os 4.000 euros emprestados.

Quanto ao crédito fácil, a taxas de juro a rondar os 30%, retirem os caros leitores e as autoridades competentes as suas próprias conclusões.

Foi Você que pediu uma Universidade Politécnica?

Mandou o governo, através da Sra. Ministra da Ciência, Inovação e Ensino Superior, reunir um «grupo de trabalho para a reorganização da rede do ensino superior» encomendando-lhe um estudo onde concretizassem os seus pensamentos, propostas, ideias e sugestões sobre o tema. Sob a designação «Bolonha: Agenda para a Excelência» encontra-se o mesmo em debate público, podendo o documento produzido pelo grupo de trabalho ser consultado em http://www.mces.pt/.

Aos Barreirenses, como a qualquer outro bom cidadão português, o tema interessa e deve ser motivo para um bom e vivo debate. Está em causa o futuro deste país, através de um modelo de ensino superior que merece uma análise atenta bem como uma resposta clara da sociedade civil.

Uma das grandes novidades do documento, bem maior do que os cursos de licenciatura de três anos anunciados nos diversos meios da comunicação social, é a proposta de criação das Universidades Politécnicas. Confesso que ainda não percebi bem o que é isso das "Universidades Politécnicas" e o que é que as vai distinguir das "Universidades Universidades", mas já lá dizia a falecida Ivone Silva «Este país é um colosso... Está tudo grosso, está tudo grosso». Não faltará muito, nesta «Agenda para a Excelência» e teremos as «Universidades Secundárias». Ora, devagar devagarinho, dentro de 10 anos andaremos a discutir as "Universidades Básicas do 2º e 3º Ciclo" e para que o ramalhete da asneira fique completo e bem composto, igualmente as «Universidades Básicas do 1º Ciclo e Jardim-de-infância».

No país aqui ao lado - para não ir geograficamente mais longe, que não é preciso - ninguém torna em complicado o que é simples: Existe a Universidade, a qual está organizada matricialmente em Faculdades, Escolas Universitárias (Escolas Politécnicas) e Departamentos. Os Departamentos fazem investigação e fornecem os Recursos Humanos necessários à formação dos alunos inscritos nas Faculdades e Escolas Universitárias, criando-se sinergias, aumentando-se os recursos e a sua eficácia.

Aliás, a simplicidade do sistema vai ao ponto de nas categorias profissionais dos docentes efectivos só existirem quatro possibilidades: Professor Catedrático de Universidade, Professor Titular de Universidade, Professor Catedrático de Escola Universitária e Professor Titular de Escola Universitária. A progressão na carreira faz-se por critérios simples de mérito e desempenho.

Quanto aos graus académicos oficiais são apenas três: Diplomado (Bacharel em Portugal), Licenciado e Doutor.

Por cá, a ser seguida a linha orientadora do documento, teremos estruturas e recursos duplicados ou, no mínimo, dispersão de recursos sem que haja benefício real para o país. Se queremos excelência, se queremos um ensino superior de qualidade e competitivo em termos da União Europeia, uma das primeiras medidas a tomar é uma reorganização do Ensino Superior em que Faculdades, Institutos e Escolas Politécnicas sejam integradas em Universidades ou Pólos Universitários como já sucede, ainda que parcialmente, no caso da Universidade do Algarve ou da Universidade de Aveiro.

Na falta de alunos em Espanha, as Universidades Espanholas já andam a captar alunos no exterior, começando por Portugal e a tal ponto - caso da Universidad de Extremadura, Badajoz - que já se pensa em leccionar cursos em português dado a afluência de alunos portugueses nalguns dos cursos ministrados ser superior a 60%.

Nós por cá... todos bem! Andamos a propor ao Governo medidas inteligentes como a criação das Universidades Politécnicas e a possibilidade de as mesmas poderem atribuir o grau de Doutor aos seus alunos. Como diria um jovem dos dias de hoje - Bué da fixe! Um destes dias ainda terei a possibilidade de ser Doutor Honoris Causa pela Universidade Politécnica dos Moinhos de Alburrica e um dos meus eventuais futuros netos terá certamente o Grau de Doutor do 4º Ano do Ensino Básico pela Universidade Básica do 1º Ciclo Conde Ferreira (antigamente designada por Escola Primária Conde Ferreira).

No entretanto - quem sabe? - um dos meus filhos rumara até à Universidad Complutense de Madrid para frequentar uma licenciatura ou uma pós-graduação leccionada inteiramente em português.

2004-11-28

A LIBERDADE ESTÁ A PASSAR POR AQUI

Caro(a) leitor(a),

Nem sempre é possível fazer chegar as nossas opiniões a público. A imprensa tem as suas regras... e que mal vão as regras da imprensa nacional do nosso país!

Felizmente, a liberdade de publicar opinião está a passar por aqui!

Desejo-lhe boas leituras. Participe! Comente! Divulgue!

Com os meus melhores cumprimentos,

José Brás dos Santos