Por vezes estamos no sítio certo, na hora certa e surge-nos uma oportunidade única. Cruzei-me com Zeca Afonso nas Caldas da Rainha por um quase mero acaso e tive o privilégio de conversar com ele um par de vezes. Boas conversas que guardei na memória, mais do que o ano exacto em que as mesmas ocorreram (talvez 1982 ou 1983, mas já não sei ao certo). Apenas me lembro de Zeca Afonso à porta do que para mim será sempre o café da Ema, no Bairro da Ponte, (Café Bordalo Pinheiro), junto à casa do meu avô materno, desfrutando os dias solarengos. Se a memória não me atraiçoa, andava então Zeca Afonso em tratamentos no Hospital Termal das Caldas.
Foi precisamente à porta do café da Ema que um dia, ainda que com um certo medo de ser considerado inoportuno, resolvi iniciar uma conversa com o Zeca Afonso. Não tinha grandes esperanças de conseguir mais do que um ou dois minutos da sua atenção e com alguma surpresa os tais um ou dois minutos transformaram-se numa animada conversa em que pacientemente Zeca Afonso satisfez a minha curiosidade sobre factos relacionados com a sua vida na época do fascismo e sobre as suas convicções ideológicas. Mais tarde, tive a oportunidade de conversar com ele sobre o 25 de Abril e as suas percepções sobre o rumo que o país tomou. Zeca Afonso era na verdade um Grande Homem simples e afável, com muita paciência para conversar com um então jovem curioso que não conhecia de parte nenhuma.
Nessa época, Zeca Afonso deixou-me a impressão de ser um Homem desiludido com o rumo que país tomou, um Homem de alguma forma amargurado com a vida e com o aproveitamento partidário que era feito do seu nome. Disse-me na altura que um dia eu iria compreender o sentido de algumas das suas palavras, que iria compreender através da experiência da minha própria vida aquilo que ele sentia e expressava sem que eu conseguisse compreender muito bem a razão dos seus sentimentos.
Precisamente hoje, passados tantos anos, percebo finalmente o que Zeca Afonso queria que eu entendesse. Zeca Afonso tinha razão. Foram precisos esses tais anos de experiência de vida para perceber o alcance de algumas das suas palavras e pensamentos. Na verdade, um homem pode sentir-se bem pior que o Zeca se sentia na época, pode sentir-se estrangeiro no seu próprio país.
Afinal já não há fascismo, mas muitas das práticas do fascismo e do Estado Novo continuam bem de pé na nossa administração pública. Já não há fascismo, mas há entre os que foram eleitos (ou nomeados com base nos resultados eleitorais) aqueles que não raras vezes ignoram e assobiam para o lado perante a injustiça e a denúncia das injustiças.
Passados 34 anos, já não temos o fascismo, temos agora uma nova ideologia chamada «legalismo» que não provoca menos danos e menos injustiças que o fascismo. Ainda assim, mesmo com um rumo bem diferente do esperado, há ainda uma chama de liberdade que nos permite cantar a «Grândola Vila Morena» sem medo de sermos presos. Se na realidade não é o povo quem mais ordena, ainda existe uma centelha de esperança e uma vontade imensa de liberdade: «VEJAM BEM, QUE NÃO HÁ SÓ GAIVOTAS EM TERRA QUANDO UM HOMEM SE PÕE A PENSAR!»
Foi precisamente à porta do café da Ema que um dia, ainda que com um certo medo de ser considerado inoportuno, resolvi iniciar uma conversa com o Zeca Afonso. Não tinha grandes esperanças de conseguir mais do que um ou dois minutos da sua atenção e com alguma surpresa os tais um ou dois minutos transformaram-se numa animada conversa em que pacientemente Zeca Afonso satisfez a minha curiosidade sobre factos relacionados com a sua vida na época do fascismo e sobre as suas convicções ideológicas. Mais tarde, tive a oportunidade de conversar com ele sobre o 25 de Abril e as suas percepções sobre o rumo que o país tomou. Zeca Afonso era na verdade um Grande Homem simples e afável, com muita paciência para conversar com um então jovem curioso que não conhecia de parte nenhuma.
Nessa época, Zeca Afonso deixou-me a impressão de ser um Homem desiludido com o rumo que país tomou, um Homem de alguma forma amargurado com a vida e com o aproveitamento partidário que era feito do seu nome. Disse-me na altura que um dia eu iria compreender o sentido de algumas das suas palavras, que iria compreender através da experiência da minha própria vida aquilo que ele sentia e expressava sem que eu conseguisse compreender muito bem a razão dos seus sentimentos.
Precisamente hoje, passados tantos anos, percebo finalmente o que Zeca Afonso queria que eu entendesse. Zeca Afonso tinha razão. Foram precisos esses tais anos de experiência de vida para perceber o alcance de algumas das suas palavras e pensamentos. Na verdade, um homem pode sentir-se bem pior que o Zeca se sentia na época, pode sentir-se estrangeiro no seu próprio país.
Afinal já não há fascismo, mas muitas das práticas do fascismo e do Estado Novo continuam bem de pé na nossa administração pública. Já não há fascismo, mas há entre os que foram eleitos (ou nomeados com base nos resultados eleitorais) aqueles que não raras vezes ignoram e assobiam para o lado perante a injustiça e a denúncia das injustiças.
Passados 34 anos, já não temos o fascismo, temos agora uma nova ideologia chamada «legalismo» que não provoca menos danos e menos injustiças que o fascismo. Ainda assim, mesmo com um rumo bem diferente do esperado, há ainda uma chama de liberdade que nos permite cantar a «Grândola Vila Morena» sem medo de sermos presos. Se na realidade não é o povo quem mais ordena, ainda existe uma centelha de esperança e uma vontade imensa de liberdade: «VEJAM BEM, QUE NÃO HÁ SÓ GAIVOTAS EM TERRA QUANDO UM HOMEM SE PÕE A PENSAR!»
Sem comentários:
Enviar um comentário