2004-12-29

Foi Você que pediu uma Universidade Politécnica?

Mandou o governo, através da Sra. Ministra da Ciência, Inovação e Ensino Superior, reunir um «grupo de trabalho para a reorganização da rede do ensino superior» encomendando-lhe um estudo onde concretizassem os seus pensamentos, propostas, ideias e sugestões sobre o tema. Sob a designação «Bolonha: Agenda para a Excelência» encontra-se o mesmo em debate público, podendo o documento produzido pelo grupo de trabalho ser consultado em http://www.mces.pt/.

Aos Barreirenses, como a qualquer outro bom cidadão português, o tema interessa e deve ser motivo para um bom e vivo debate. Está em causa o futuro deste país, através de um modelo de ensino superior que merece uma análise atenta bem como uma resposta clara da sociedade civil.

Uma das grandes novidades do documento, bem maior do que os cursos de licenciatura de três anos anunciados nos diversos meios da comunicação social, é a proposta de criação das Universidades Politécnicas. Confesso que ainda não percebi bem o que é isso das "Universidades Politécnicas" e o que é que as vai distinguir das "Universidades Universidades", mas já lá dizia a falecida Ivone Silva «Este país é um colosso... Está tudo grosso, está tudo grosso». Não faltará muito, nesta «Agenda para a Excelência» e teremos as «Universidades Secundárias». Ora, devagar devagarinho, dentro de 10 anos andaremos a discutir as "Universidades Básicas do 2º e 3º Ciclo" e para que o ramalhete da asneira fique completo e bem composto, igualmente as «Universidades Básicas do 1º Ciclo e Jardim-de-infância».

No país aqui ao lado - para não ir geograficamente mais longe, que não é preciso - ninguém torna em complicado o que é simples: Existe a Universidade, a qual está organizada matricialmente em Faculdades, Escolas Universitárias (Escolas Politécnicas) e Departamentos. Os Departamentos fazem investigação e fornecem os Recursos Humanos necessários à formação dos alunos inscritos nas Faculdades e Escolas Universitárias, criando-se sinergias, aumentando-se os recursos e a sua eficácia.

Aliás, a simplicidade do sistema vai ao ponto de nas categorias profissionais dos docentes efectivos só existirem quatro possibilidades: Professor Catedrático de Universidade, Professor Titular de Universidade, Professor Catedrático de Escola Universitária e Professor Titular de Escola Universitária. A progressão na carreira faz-se por critérios simples de mérito e desempenho.

Quanto aos graus académicos oficiais são apenas três: Diplomado (Bacharel em Portugal), Licenciado e Doutor.

Por cá, a ser seguida a linha orientadora do documento, teremos estruturas e recursos duplicados ou, no mínimo, dispersão de recursos sem que haja benefício real para o país. Se queremos excelência, se queremos um ensino superior de qualidade e competitivo em termos da União Europeia, uma das primeiras medidas a tomar é uma reorganização do Ensino Superior em que Faculdades, Institutos e Escolas Politécnicas sejam integradas em Universidades ou Pólos Universitários como já sucede, ainda que parcialmente, no caso da Universidade do Algarve ou da Universidade de Aveiro.

Na falta de alunos em Espanha, as Universidades Espanholas já andam a captar alunos no exterior, começando por Portugal e a tal ponto - caso da Universidad de Extremadura, Badajoz - que já se pensa em leccionar cursos em português dado a afluência de alunos portugueses nalguns dos cursos ministrados ser superior a 60%.

Nós por cá... todos bem! Andamos a propor ao Governo medidas inteligentes como a criação das Universidades Politécnicas e a possibilidade de as mesmas poderem atribuir o grau de Doutor aos seus alunos. Como diria um jovem dos dias de hoje - Bué da fixe! Um destes dias ainda terei a possibilidade de ser Doutor Honoris Causa pela Universidade Politécnica dos Moinhos de Alburrica e um dos meus eventuais futuros netos terá certamente o Grau de Doutor do 4º Ano do Ensino Básico pela Universidade Básica do 1º Ciclo Conde Ferreira (antigamente designada por Escola Primária Conde Ferreira).

No entretanto - quem sabe? - um dos meus filhos rumara até à Universidad Complutense de Madrid para frequentar uma licenciatura ou uma pós-graduação leccionada inteiramente em português.

1 comentário:

Anónimo disse...

Sou um dos tais alunos de universidades espanholas. Além de serem bons a nível pedagógico estão a fazer um bom trabalho de investigação, pois consideram que um ensino superior sem investigação não tem futuro. Estão a promover parcerias com outras instituições universitárias tanto em Portugal como na América Latina. Além de desenvolverem o seu negócio ficam a conhecer melhor o País onde se instalaram.
As universides portuguesas peocupam-se apenas com o número de anos que as licenciaturas vão ter, não vá suceder, devido ao processo de Bolonha, uma diminuição do corpo decente ou um aumento das horas de trabalho. Conhecem alguma universidade pública portuguesa que tenha parcerias com universidades dos PALOP´s?