2009-01-06

Entrevistas à portuguesa

Ricardo Costa e José Gomes Ferreira demonstram como os jornalistas portugueses estão longe de prestarem um bom serviço público de jornalismo em sede de entrevista. Confundem incisividade com agressividade (na voz e na fisionomia). Desconhecem em absoluto que a assertividade produz uma entrevista mais esclarecedora e de melhor qualidade.
Sobre o conteúdo das palavras de Sócrates, abordarei o tema em breve.









Extracto da Entrevista publicado no sítio da SIC:
"Não fazer investimento público é moralmente errado"
Além de politicamente errado, o primeiro-ministro considera moralmente errado não fazer investimento público em 2009, nomeadamente nas grandes obras como rodovias, aeroporto, TGV e nova ponte sobre o Tejo. José Sócrates diz que o emprego é a prioridade de 2009 e que as intervenções nos bancos foram vitais para salvar o sistema financeiro e poder apoiar as empresas e as famílias




Com a crise económica mundial a dominar a discussão político-social, o primeiro-ministro disse que Portugal está melhor preparado do que em 2005 (quando começou a chefiar o Governo) para a enfrentar."Baixámos o défice orçamental de 6,8% para 2,6%, o crescimento económico foi o maior em oito anos e criámos130 mil novos postos de trabalho", disse, argumentando que a economia "ganhou uma folga para reagir à crise porque o défice em 2008 será de 2,2%".A folga de 0,8% face ao défice de 3% permitido por Bruxelas será usado para "proteger empresas, o emprego e fazer investimento". "O facto de termos posto as contas públicas em ordem permite ao Estado fazer investimentos em momentos de emergência para ajudar empresas e famílias", realçou. Interrogado sobre se as grandes obras públicas (TGV, aeroporto, rodovias, ponte sobre o Tejo) não serão uma herança pesada para as futuras gerações, José Sócrates considera que "não fazer investimento público seria não só política mas moralmente errado"."A nossa economia precisa de investimento público para garantir emprego e apoiar empresas, porque é moralmente errado não o fazer, porque as pessoas precisam disso. Estamos a investir no futuro, para estarmos mais fortes quando sairmos da crise. A economia ficará mais competitiva e a qualidade de vida será melhor", afirmou. Realçando que o Governo está a "fazer um esforço para o pagamento de concessões", afirma que há "estudos sobre o custo-benefício dos novos investimentos" que sustentam as opções do Executivo.Para 2009, Sócrates diz que a aposta é a "protecção do emprego", já que as medidas de apoio social não são tão urgentes porque as despesas com combustíveis, prestações do crédito à habitação e alimentação vão descer. Foi isso que quis dizer quando referiu que "2009 seria um ano melhor", explicou.Alterações ao OEConfrontado com o aumento da dívida externa, o primeiro-ministro disse que metade se deve ao problema do aumento do preço do petróleo entre 2003 e 2008 e que a aposta do Governo tem sido nas energias alternativas (hídrica, eólica, solar e ondas)."A política de energias renováveis teve indiscutível sucesso, porque 42% da electricade que usamos é produzida em Portugal", referiu. Face à ameaça de recessão, José Sócrates disse que a "crise é global e gravíssima, daquelas que se vive uma vez na vida" e que não poderia ter sido prevista. Assim, admite agora fazer alterações às previsões inscritas no Orçamento de Estado através do Pacto de Estabilidade e Crescimento, a ser apresentado dentro de dias."Anunciámos que vamos fazer alterações, depois da Europa também o ter decidido. Decidimos usar a folga do défice e, no conselho de ministros que se seguiu, anunciámos que íamos apostar no parque escolar, na infra-estutura tecnológica e na eficiência energética. E vamos ainda actuar na protecção do emprego", explicou. Interrogado sobre se baixaria os impostos, José Sócrates disse que o Governo já tomou medidas nessa área: "baixámos o IRC este ano, baixámos o pagamento especial por conta, criámos crédito fiscal ao investimento". Alegando que não é "vidente", o primeiro-ministro considera que "esta é a receita adequada" face aos dados existentes sobre a evolução da economia.Salvar bancos e empresasSobre as intervenções nos bancos, o primeiro-ministro diz que foram feitas "não por vontade do Estado, mas por ser uma emergência e por a alternativa ser muito pior". Tanto no caso do BPN como do BPP, o primeiro-ministro frisou que o Estado "não salvou bancos, mas salvou os portugueses da falência desses bancos; não quis salvar banqueiros, mas defender os portugueses e os depositantes".Sócrates considera que havia o risco de perda de confiança no sistema bancário, que é vital para haver disponibilidade de crédito para empresas e famílias. "Salvaremos as empresas que pudermos, que sejam sólidas e competitivas", disse sobre apoios já dados à Qimonda e às Pirites Alentejanas, acrescentando que em Janeiro serão acentuadas as linhas de crédito.Sobre o financiamento europeu à agricultura não aplicado, o primeiro-ministro justificou que esses 60 milhões de euros serão parte de um pacote de 160 milhões de investimento público para "alavancar mil milhões de euros de investimento privado no sector". Relação com o PRAntes das questões económicas, José Sócrates explicou a sua posição sobre o Estatuto dos Açores e disse que "há uma divergência, mas não há confronto nem desafio com ninguém". O primeiro-ministro afirma que a Assembleia da República tem uma "diferente interpretação da Constituição" face aos dois artigos criticados pelo Presidente e espera que o Tribunal Constitucional se venha a pronunciar. Caso sejam considerados inconstitucionais, admite "retirá-los". "Lealdade não implica obediência", sublinhou Sócrates, dizendo que tem "consciência dos deveres de cooperação institucional a benefício da democracia portuguesa". "Não é uma grande questão, nem pode pôr em causa nenhum relacionamento. As pessoas devem habituar-se a conviver com divergências", advogou. "Não desistir" da avaliação dos professoresAo nível da avaliação dos professores, José Sócrates considera que houve necessidade de alterar o modelo porque o Governo reconheceu três problemas: "excesso de trabalho nas escolas, muita burocracia, falta de reconhecimento dos avaliadores". Perante este cenário, as alterações ao modelo tornaram-no "mais simples", mas este permite "responder ao essencial", defendeu o primeiro-ministro."O que havia antes era um simulacro de avaliação, não era séria nem credível. O Governo não cometeu o erro de desistir do processo de avaliação, de ignorar algo que acontecia há 30 anos", acrescentou.Manuel Alegre e maioria absolutaNa questão das divergências com Manuel Alegre, José Sócrates disse que tem "respeito, consideração e uma boa relação pessoal" com o histórico do PS mas que o partido tem "responsabilidade de governação". Por isso, enquanto secretário-geral, Sócrates quer "promover a unidade com toda a diversidade", num partido que é "popular e da esquerda democrática". Sobre a possibilidade de governar sem maioria absoluta, tendo já dito que será candidato à liderança do partido, Sócrates não fala "sobre cenários" e prefere pedir essa maioria."Acho que é muito importante para Portugal a estabilidade política e governativa. A maioria absoluta é necessária", disse.O primeiro-ministro não concorda com a junção de eleições na mesma data, no caso das autárquicas e das legislativas, embora tenha mais abertura no caso das europeias. "As dinâmicas são diversas", argumentou.

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