A recente crise (bancária) não é alheia ao fenómeno da ética no mundo dos negócios. Já em crises anteriores (“borbulha das dot.com”, “escândalos tipo Enron”), o tema da ética foi chamado à colação no domínio da investigação científica em gestão.
Muito naturalmente, será de prever que a ética será um tema dominante da investigação científica em gestão nos próximos anos. Todavia, este não é um tema novo, ainda que a investigação esteja dispersa por diversas áreas. Na verdade, consultando uma das principais bases de dados sobre artigos científicos publicados (ver Figura 1) regista-se que as publicações científicas publicaram até à data 43.396 artigos científicos sobre o assunto. Contudo, não mais de 15% desses artigos (ver Figura 2) são dedicados à ética nos negócios.
Após análise e triagem desses 15%, conclui-se que somente 581 artigos científicos tratam da ética, relacionando-a com a responsabilidade social das empresas perante a sociedade. Uma melhor visão do panorama científico nesta área de investigação surge no artigo «An Analysis of 10 years of Business Ethics Research in Strategic Management Journal: 1996-2005», de Christopher J Robertson, publicado no Journal of Business Ethics (Julho 2008, Vol. 80, Iss. 4; p. 745) cuja leitura é recomendável.
Figura 2
Apesar da relativa escassez de artigos, o que ocorreu na Banca seria evitável caso as evidencias científicas tivessem passado dos muros das Universidades e Centros de Investigação para a economia real. Ocorre que os gestores da economia real pouco ou nada se preocuparam com os resultados de investigação existentes. Ocorre que os Governos e as entidades reguladoras seguiram idêntico exemplo e comportando-se como a avestruz, têm seguido as suas políticas de gestão de acordo com a moda e os “gurus” do momento, mais se preocupando em andarem à «busca do UAAU!» e outras coisas do género que os ditos “gurus” da gestão vão escrevendo nos seus livros “best-seller”, razão de o mau resultado estar hoje à vista de todos.
A presente crise, não é no nosso entender uma mera crise bancária, uma simples crise financeira ou uma grave crise económica à escala global. É muito mais do que isso. Estamos perante uma séria crise de valores e de código de conduta. Valores e código de conduta que apenas associamos a determinadas profissões como as da saúde ou do direito, esquecendo que esse mesmo tipo de valores e código de conduta é igualmente importante noutras profissões e em toda a actividade económica.
Esperemos que os governantes tenham aprendido a lição e deixem de guiar as suas políticas por livros do tipo «best-seller», porque como é evidente para a pessoa mais simples e com um mínimo de sensatez, o sucesso de vendas de um livro não tem correlação com a qualidade do seu conteúdo. Muito menos, quando o teor do mesmo não tem suporte científico e esquece - deliberadamente ou por ignorância do autor - o impacto das decisões aconselhadas noutros domínios ou no longo prazo.
2 comentários:
Parabens pelo filing e percepção em captar a questão da crise atual ,concordo plenamente com seu argumento.
Caro Isaac Trindade,
Obrigado pela leitura e pelo seu comentário.
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