2008-11-13

Cuidado com o coice... do «O Jumento»

Estou habituado a que o blog «O Jumento» asseste uns coices bem dados e certeiros pelo raciocínio ou fundamentação.
Para minha surpresa O Jumento reproduziu nos seus «Coices noutros Blogs» um coice vindo do blog Random Precision que foge ao normal rigor dos coices publicados no O Jumento.
Afirma o Random Precision que "Uma professora quer que a gente acredite que trabalha 12 horas por dia na escola e ainda mais (talvez outras tantas) em casa, embora não tenha dito qual é «o seu dia de folga» (...)" . Ora só a falta de conhecimento de causa pode levar a que se produza esta afirmação. Há efectivamente professores que trabalham mais de 12 horas diárias e sem "dia de folga" durante os cinco dias úteis. Há efectivamente professores que trabalham ao fim-de-semana quando deveriam estar a descansar.
Umas simples contas tomando o caso de uma professora ou professor com sete turmas a seu cargo, correspondendo a um total de 180 alunos, tornam plausível a afirmação dessa professora.
Admita-se que em média um docente leva 14 minutos a ler, corrigir (comentários deixados nos testes, como vi em muitos testes dos meus filhos) e avaliar um teste de avaliação e multiplique-se esse tempo médio por 180 alunos. Temos 2.520 minutos utilizados no processo de avaliação dos alunos, o que corresponde a 42 horas de trabalho. Admita-se que atende um encarregado de educação durante 30 minutos e que escreve três ou quatro mensagens a encarregados de educação dos seus discentes correspondentes a 10 minutos do seu tempo de trabalho, que utiliza 20 minutos do seu tempo para actividades administrativas como participação de faltas disciplinares, comunicação de faltas ou elaboração de um relatório. Junte-se 22 horas de aulas, acrescidas de 2 horas de permanência em sala de estudo e teremos um total de 67 horas de trabalho, para as quais ainda não foram contabilizadas outras actividades como o tempo despendido na preparação das matérias a leccionar, elaboração de fichas didácticas para os alunos, etc.
Dividindo as 67 horas por cinco dias úteis de trabalho temos uma média diária de 13 horas e 24 minutos de trabalho. Parece-me assim plausível a afirmação da Professora contrariamente ao que insinua o blog Random Precision, quanto mais não seja numa semana em que o docente corrija e avalie os testes dos seus alunos. Pode não ser assim todas as semanas, mas a avaliar pelos trabalhos de casa que os meus filhos trazem para casa ao longo dos sucessivos anos lectivos, na minha qualidade de encarregado de educação, não me oferece dúvidas que em outras semanas onde não há testes, os docentes empenhados trabalhem muito para além das 35 horas semanais a que contratualmente estão obrigados.
Mais! As novas tecnologias trouxeram novidades na interacção entre alunos e professores e ainda reentemente fui positivamente surpreendido por existirem professores que utilizam o messenger para esclarecer dúvidas dos alunos, por exemplo, após a hora de jantar.
Qualquer pai ou encarregado de educação mininamente atento, sabe que não pode meter tudo no mesmo saco e que seria da maior injustiça não reconhecer que há muitos professores empenhados que, para cumprirem conscientemente com os seus deveres profissionais, não olham ao número de horas que trabalham. Cuidado com o coice... que poderá não ser justo nem merecido.
Sobre a avalição de desempenho, o Random Precision (e indirectamente o O Jumento) devia ler a produção científica existente sobre o tema: Há factores que são controláveis por quem é avaliado e outros que o não são. Um dos grandes problemas da avaliação do desempenho está precisamente em avaliar-se o avaliado por factores sobre os quais tem pouco ou nenhum controlo.
Em lugar de produzir opinião baseada no preconceito ou no estereótipo, melhor seria um coice dado com base em alguns dos melhores artigos científico sobre desempenho e avaliação do desempenho, já que uma das maiores pechas sobre a legislação produzida sobre a avaliação de desempenho dos professores ou de quaisquer outros funcionários públicos é a má fundamentação (ou nenhuma fundamentação) científica dos modelos propostos. Sugiro assim, entre outros, a leitura de:
Arvey, R. D. and Murphy, K. R. (1998). Performance evaluation in work settings. Annual Review of Psychology. 49: 141-168
Blumberg, M. and Pringle, Charles D. (1982). The Missing Opportunity in Organizational Research: Some Implications for a Theory of Work Performance. Academy of Management Review. Vol. 7, No. 4, pp. 560-569.
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