Segundo o Público «Ministra da Educação disposta a tornar avaliação menos burocrática », mas parece pouco disposta a avaliar a bondade, fiabilidade e consistência do própio modelo de avaliação escolhido.
Há um conjunto de perguntas sobre este modelo de avaliação de desempenho dos professores que ninguém faz e que a própria Ministra está desejosa que nunca, jamais em tempo algum, alguém se lembre de fazer em público e em directo:
- Qual o fundamento científico deste modelo?
- Quais os estudos empíricos efectuados e quais os resultados?
- Quais os verdadeiros objectivos do modelo? Quais os resultados esperados?
- Quais os modelos alternativos e porque razão se considera este modelo melhor que as suas alternativas?
- Como se garante através deste modelo o compromisso organizacional dos professores em relação à Escola?
- Quais a variáveis que directamente dependem da actividade do professor e que este pode controlar (ou seja assumir-se como responsável por elas)?
- Como fomenta este modelo de avaliação de desempenho comportamentos desejáveis por parte dos professores? Por exemplo, como fomenta o espírito de equipa e o trabalho de equipa?
- Como garante o modelo que os comportamentos premiáveis são efectivamente os comportamentos que se deseja premiar?
- Como garante o modelo a avaliação do desempenho extra papel (componente "out role" do desempenho) do professor?
- Que constructo de desempenho se pretende medir com o modelo?
- Como garante o modelo os desvios e erros de avaliação dos avaliadores? Em que medida e com que mecanismos de regulação?
- Como se garante a justiça procedimental e a justiça distributiva no modelo?
Em lugar de responder a estas perguntas, a Sra. Ministra prepara-se para colocar em acção mais umas medidas que inevitavelmente redundarão em dislate. Entre elas, conforme surge no Jornal Público, dar "mais autonomia para as escolas" num processo de avaliação de desempenho que parece reteridado das obras literárias de František Kafka. Já não bastavam as influências do «O Processo» e do «O Castelo», vêm aí agora as influências d' «A Metemorfóse» do Sistema de Avaliação do Desempenho.
4 comentários:
Ainda bem, para a ministra, que você não é jornalista.
Já ouvi uma teoria que ela se baseou em sistemas de vários países tão distintos como: países do norte da Europa, do Leste da Europa e até países da América do Sul, com uma mescla de sistemas criou uma coisa parecida com o que existe no Chile.
Olá Caro Antineoliberal,
De sorte, não sou mesmo jornalista. Infelizmente o jornalismo em Portugal vai pelas ruas da amargura. Há quem não conheça Noam Chomsky e - por incrível que pareça - confunda Joseph Pulitzer com Joseph Goebbels... mera confusão de Joseph's (esta aconteceu-me numa aula leccionada a alunos de Comunicação Social).
De sorte, sou investigador na área da Gestão, tendo dedicado os últimos 5 anos à gestão de Recursos Humanos, muito em particular aos sistemas de avaliação de desempenho das pessoas e organizações em diversos aspectos.
Creio que bastaria o bom senso para confrontar a Ministra com este tipo de perguntas. Não são necessários anos de estudo. Basta olhar para os documentos produzidos pelo Ministério, mas os senhores jornalistas não fazem o trabalho de casa como seria espectável.
Já reparou no gritante silêncio dos Catedráticos deste país sobre o assunto? Não acha estranho? Esse é o gritante silêncio que mais me impressiona.
Comente sempre que entenda!
Cumprimentos,
Brás dos Santos
Os catedráticos estão na "retranca" eles também estão a passar por dificuldades, a maioria das universidades vive com défice, as verbas disponibilizadas são as suficientes para estarem abertas, ou seja, pagar vencimentos e pouco mais, por um lado têm razões de queixa desta ministra mas não a querem hostilizar à espera que lhes "caia alguma migalha na sopa", por outro isto é uma "guerra" que não é deles, mas posso adiantar-lhe que foi discutido em Conselho de Reitores.
Obrigada pelo seu comentário que me trouxe até aqui. As suas perguntas seriam pertinentes caso o objetivo do modelo fosse "avaliação". Do meu ponto de vista a única pergunta a fazer seria - de quanto será a poupança para o erário com a implementação deste modelo?
Este é o único objetivo. Se as coisas fossem transparentes, a dona ministra teria dito - só há X para os pagamentos aos professores; encontrem forma de organizar a sua distribuição. (Alguém me disse que na Alemanha foi feito assim mesmo no sector da saúde) Por isto me seduziu aquela proposta de seriação. O "chefe" (seja ele quem seja)faz a lista ordenada e as posições na lista vão permitindo as subidas de escalão. O "chefe" tem a obrigação de criar um clima que lhe permita conhecer o trabalho de cada um. Se a lista ordenada não for consensual gera pandemónio e põe em causa o seu próprio cargo, o que não lhe convirá. E deste modo talvez fosse possível desenvolver o tal espírito de equipa, talvez fosse possível trabalhar em função dos alunos.
Não acredito (é mesmo problema de crença) na avaliação de professores.E eu tive de fazer "exame" para passar para o 8º escalão, até tive nota máxima mas considero inútil tal habilidade.
De todos os professores que fui tendo na minha vida de estudante talvez consiga selecionar dois ou três professores que preferia nem ter conhecido. De resto, com uns melhores e outros piores, lá fui aprendendo. E essa variedade não é má.
Hei de ir ver o sistema de Ontário. Pode ser que me convença da sua utilidade.
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